Era uma escola de ingles destinada a imigrantes, com a proposta de ensinar ingles e a preparacao para o mercado de trabalho; atuando desde a reflexao de habilidades e desejos dos estudantes, ate a elaboracao de curriculos e preparacao dos mesmos para entrevistas. Eram 4 meses de aulas diarias, financiadas pelo governo, com direito a mais 4 meses se comprovasse a necessidade. Os alunos eram inseridos separadamente para as classes, nao havendo um final de turma comum para todos. Havia somente um teste anterior ao inicio das aulas para definir em que nivel de ingles o aluno se encontrava.
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Haviam geralmente uns 15 alunos, de diversas nacionalidades, predominando imigrantes de origem asiatica e africana, e com alguns poucos do leste europeu e america central (Jamaica e Republica Dominicana). Em 8 meses de curso (frequentei 2 niveis) nunca encontrei nenhum brasileiro .
No meu primeiro dia de aula, percebi que na minha classe havia um grupinho de mulheres muculmanas bem entrosadas entre si, e senti uma grande curiosidade de conhece-las e tambem às suas realidades.O que me surpreeedeu em primeiro plano era a animacao e alegria delas, que destoava da minha visao de mulheres muculmanas de forma geral, tao violadas em seus direitos. Apesar de a classe ser nivel 2, o que fazia com que ja fosse possivel nos comunicarmos em ingles entre os colegas, me decepcionei um pouco ao perceber que, fora dos momentos de aula, elas costumavam conversar em sua lingua nativa, o que me excluia da possibilidade de participar das conversas.
Depois de alguns dias, consegui comecar a interagir me com elas, especialmente pela curiosidade das mesmas em saber de um pais tao longuinquo e “diferente” como o Brasil.
Todas elas tinham muito filhos, nunca haviam trabalhado na vida, e viviam ha muitos anos na Inglaterra, algumas desde criancas.Todas recebiam beneficios do governo para o sustento de seus filhos e tambem para o aluguel de suas casas.Nao gostavam muito de falar do “trabalho” de seus maridos alias, nao era um assunto muito popular, pelo menos na minha frente, nem a mencao dos referidos maridos, apesar de todas, sem excessao, serem casadas.Adoravam trocar dicas e cuidados com os filhos, assim como receitas e amenidades.
Havia Jamila, a mais aberta e falante de todas, uma morena faceira, coberta de roupas e lencos de cores bonitas, bordados com muito bom gosto,que com seus 26 anos apenas, ja possuia 4 filhos. Havia Rina que com seus 7 filhos, costumava vestir se toda de preto, gostava de ler o alcorao em qualquer momento que tivesse, e aparentava mais do que seus apenas 37 anos, porem seu olhar iluminava se quando comecava a descrever com orgulho,sobre o estudo de seus filhos, e das gracinhas de seu filho mais novo, de apenas dois anos.
Aquele grupo de mulheres se formaram juntas, depois de 2 meses de minha chegada e, a companhia delas me fez confirmar o dito popular de que felicidade depende mais da pessoa do que das circusntancias em que se encontram, e que nao existem culturas felizes ou infelizes, e sim pessoas que, apesar de possuirem os mesmos usos e costumes, possuem maneiras diferentes de encarar a propria vida.
Ligia Kaysel