sábado, 28 de abril de 2012

Crimes contra a honra:


Sabe-se  que os crimes  cometidos  para preservar a honra  das  famílias  ocorriam  no século passado, ou ainda ocorrem em regiões remotas do planeta. Eu não imaginava porém,  a grande incidência deste delito no Reino Unido, em pleno seculo XXI.

Uma pesquisa  elaborada pela BBC TV1 de Londres para  o documentário “Panorama” exibido em 19/03/12 constatou que dois terços dos britânicos de origem asiática ou asiáticos que vivem no Reino Unido concordam que suas famílias vivam de acordo com o conceito de honra.

Uma pesquisa da ONG–IKWRO-Organização dos Direitos da Mulher do Irã e do Kurdiquistão constatou que mais de 2.800 delitos (violência física, mutilações e homicídios) pelo motivo da  honra foram registrados pela polícia do Reino Unido no último ano (2011), isso sem contar  os casos  não registrados, que provavelmente são muitos.

“O número de incidentes é significativo, especialmente quando nós considerarmos o alto nível de violência que as vítimas sofreram antes de procurar ajuda “,diz Mr. Nazir Afzal, representante do Ministério Publico de Londres.

Os crimes por razões de honra costumam ser organizados pelas famílias, sendo as vítimas, na maioria das vezes, a mulher. Os motivos mais frequentes  são:-A recusa de um casamento forçado  -A procura pelo divórcio  -Um relacionamento amoroso não aprovado pela familia  -Ataque sexual sofrido pela mulher (dupla violência)  –Ser homossexual; e outros.

Um exemplo desta problemática, exibido no documentário  Panorama, foi o de uma jovem proveniente do Paquistão, prometida como noiva para um britânico de origem asiática em Londres. Ao chegar para o casamento teve seu passaporte confiscado por seu noivo e sua família; depois do casamento foi trancada em casa e passou a sofrer de violência doméstica física. Ao informar ao seu genitor no Paquistão da violência  que ela estava sofrendo, seu pai pediu para que a mesma  não deixasse seu marido em nome da honra da família.  A jovem suicidou-se.

Entre as tentativas governamentais e não governamentais de combate a este fenômeno, foram criados os abrigos  para mulheres  que sofrem de violência doméstica pela honra e seus filhos, com apoio socio-psico-jurídico, tudo com o objetivo das mesmas superarem a violência sofrida e começarem uma nova vida no Reino Unido. Há porém a dificuldade de se chegar até estas mulheres, visto que sofrem caladas, afastadas do mundo, trancadas em seu inferno particular, além da barreira da língua,  visto que muitas delas são proibidas de apreender o inglês.

Há 4 anos existe no país uma linha direta (telefone para aconselhamento e ajuda) especialmente para vítimas de violência doméstica causada pela honra. A média de chamadas  tem sido de 500 ao mês. As chamadas sao anônimas, e podem ser atendidas em diversas  línguas  e dialetos árabes e norte africanos.

Talvés seja este um  caminho eficiente para o início de um combate mais efetivo para tão grave  questão.

LIGIA KAYSEL

domingo, 22 de abril de 2012

O BAIRRO QUE EU TRABALHAVA:




Trabalho em  uma empresa que fornece micocrédito  para pessoas de baixa renda. São 15 lojas em  empobrecidos  bairros  de  Londres.

Por quase dois anos trabalhei em um bairro onde há a  predominância de  imigrantes Somalis  e seus descendentes, de  maioria muçulmana.

É um bairro muito interessante. Existe, por exemplo, um mercado com   diversas bancas que vendem  uma   enorme  variedade  de “hijab” (véu que cobre os cabelos, orelha e pescoco, deixando visível apenas o rosto), bordados, rendados, de diversos tecidos e cores que, expostos nas  manequins, são realmente  muito delicados e bonitos. Lembro me de um colega muçulmano,  que trabalhou comigo naquela loja,  que relatou  me um dia  o “quão”  lindo e sedutor   era,  do seu ponto de vista, as jovens que trajavam  véus.

A  quantidade e diversidade de meias finas, até a altura das coxas para mulheres, dos mais diversos modelos, cores e rendas, chamavam-me  também a atenção pois, provavelmente deve ser um importante ítem de sedução feminina  dentro de casa (visto que fora de casa elas estão sempre com  roupas compridas).

Há também, na rua da minha antiga  loja,  uma doceria  com   deliciosos  produtos típicos  do oriente,  onde  é o  “ponto de encontro”  dos jovens muçulmanas daquela comunidade.  As  jovens, cobertas por longos vestidos  com mangas compridas  e com o “hijad” sobre a cabeça, mas   bem maquiadas e com as unhas cuidadosamente pintadas, nunca sentam se junto aos rapazes, mas depois de algum tempo no lugar,  percebe-se  a troca de olhares e sorrisos, uma discreta  “paquera” entre eles.

Há   ainda um estabelecimento, vizinho a  minha  ex-loja, de  vestidos finos para mulheres muçulcanas, cuja gerente (ou proprietaria, não sei) é mal humorada e tem olhos verdes. Digo mal humorada   pois   houve uma   época  que tentamos, meus colegas de trabalho e eu, nos aproximarmos da mesma sem sucesso . Cito seus olhos verdes  por   ser a  a  única parte de seu corpo  que    era  possível  se  visualizar ,  visto que ela usava   o “ Niqab” (véu integral com um acessório individual que cobre o rosto da mulher,  deixando  sòmente os olhos expostos). Pelos seus olhos podíamos ver que  ela posssuia pele clara,  era bem jovem e deveria ser bonita.

Há um mês fui transferida para uma outra loja da minha empresa, mais perto de minha casa. Neste bairro já não vejo muitos muçulmanos,   porém é um bairro onde há predominância  de   nigerianos  e  jamaicanos.

E assim vai se formando Londres, como uma colcha de retalhos, onde cada país ou grupo de países   é representado num bairro ou região, tornando cada lugar um lugar peculiar e único.

LIGIA KAYSEL

sábado, 14 de abril de 2012

A POBRE NAÇÃO RICA: A recessao no Reino Unido



Habituar-se a viver com mais dinheiro éfácil, mas habituar-se  a viver  com menos é muito difícil para qualquerpessoa.

Imaginem então para  toda uma nação  que experientou pordiversas  gerações fartura de emprego, de  benefícios sociais e serviços públicos dequalidade, ter que se adaptar a uma recessão que não  dá  sinaisde melhora.

Esta é a realidade do Reino Unido hoje, e provavelmente de boa parte da Europaocidental.

Desde 2010 o governo britânico está  sendo obrigado a fazer cortes no  seu orçamento, incluindo serviços públicos.O  setor privado por sua vez ,  vemtambém  cortando drásticamente  suas despesas.

Para a maioria da população cabe a  difícil   tarefa demudar   de atitude, de planos, e algumas vezes até a maneira deencarar o mundo.

Em 2011 mais de 100 mil empregospúblicos   no setor da saúde e  da educação foram cortados  (The Guardian-22/03/2012).

Sòmente no sistema de saúde públicabritânico (NHS) foram cortados 30 mil postos de trabalho. Para tanto, sem que os primeiros  atendimentos passem  a ser diferentes doque no passado, decidiram  interferir  diretamente na atuação do médico generalistado posto de saúde.

Portanto a pessoa que necessita  de atendimento médico  será  prontamente atendida no posto de saúde maispróximo de sua casa porém,  mesmo que omédico  desconfie  que  pode haver a possibilidade de algumproblema mais grave com o paciente, ele   está limitado em   seus   primeiros   atendimentos,  emrelação   a   requisição  de exames   e/ou  encaminhamentos  para especialistas.   Sòmente depois  de  algumas  consultas  ou dos sintomas do pacientese agravarem,  o médico poderá encaminha-lo a um exame mais preciso ou para algum especialista.

Os mais de 71 mil   empregoscortados em 2011 na educação pública, trouxeram como consequência  a piorada  qualidade do ensino, especialmente nas comunidades  de baixarenda de Londres, além de drásticos cortes em outros programas educacionais.

O  programa ESOL, que visa o ensino de inglês para imigrantes  adultos, cortou seu atendimento de 195 mil para 100 milalunos nos dois últimos anos. São hoje sòmente elegíveis para frequenter esteprograma, quem está  recebendo o “segurodesemprego” (portanto já trabalhou  legalizado anteriormente  no Reino Unido)ou  para  quem recebe alguns poucose   determinados beneficios sociais.(www.thethelegraph.co.uk-03.11.11).

Grande parte da população  que frequentava o ESOL anteriormente era compostapor mulheres imigrantes com filhos, que vivem no mais completo  isolamento  doméstico de seus lares, ou imigrantes que trabalham em empregos  mal pagos(recebendo muitas vezes menos que o salário mínimo estipulado no país), todospor desconhecer  completamente a linguafalada no país em que vivem.

Também diversos  beneficios sociais da Inglaterra, como a ajudapara as mães que desejam  permanecer emcasa cuidando dos seus filhos , ajuda no aluguel para população de baixa rendae outros,estão ameaçados de serem diminuídos   ou cortados,  a partir de 2013.

Enfim,  o Reino Unido hoje, é umasociedade em transformação, talvez nunca mais volte a ser a  mesma depoisdesta crise.     

Ligia Kaysel.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Festa tipica Britanica: Epsom Derby


Em 2009  fui a  um  tradicional evento  no Reino unido, o Epsom Derby. E uma corrida de cavalos  que occore anualmente em Londres desde 1780, no bairro de Epsom, no sul de Londres.

O evento possui uma parte aberta num  grandioso   espaco  destinado ao público  em geral, somado a uma luxuosa construcão destinada a pessoas mais abastadas.

Esta construcão e constituída  por uma arquibancada com visão previlegiada para  a pista de corridas, finos restaurantes ,cafés, e também por camarotes.  A “ nobreza “  britânica frequenta  com  regularidade o evento, inclusive  a rainha Elizabeth.

Pessoas que estão neste recinto necessariamente precisam vestir-se “a caráter ”,  os homens de terno e gravata e as mulheres  com  luxuosos vestidos e obrigatóriamente chapéus ou algum adereco na cabeca.  Achei muito engracado, em plena manhã de verão  no campo, as mulheres vestidas com saltos altíssimos e belos chapéus, e  os homens  finamente vestidos , muitos deles  com cartolas
.
O local do evento para o público em geral lembrou me um pouco os rodeios brasileiros em sua estrutura física, com diversas barracas de comidas, parque  infantil  e imensos   telões,  onde é possivel  ver  toda  a corrida  de qualquer  lugar da festa.

Neste local porém, ha  uma separacão entre o parque infantil  e as barracas, situados   mais distantes   da corrida, e o recinto onde se pode  ver a corrida  mais de perto. Neste Segundo  recinto, ha várias barracas de bebidas , sendo porém proibido a venda de qualquer produto alimentício em todo o local.Ha também  diversas barracas de apostas e caixas eletronicos.

A  corrida consiste  num campeonato ,  onde os melhores cavalos e cavaleiros vão ficando para as quartas de finais, semi finais e finais.As barracas de apostas, extratégicamente colocadas , convida o público  para  apostar  a  todo o momento.  O valor  da  aposta  comeca  a  partir de £1, um valor pequeno, mas com o tempo, com a empolgacão da corrida, e também com a quantidade de bebida ingerida  sem alimentacão , o público  vai  apostando cada vez mais, dai a “necessidade” dos caixas eletrônicos.

Depois de comermos nas barracas tipicas, e já tendo comecado a corrida,(que ocorre a cada 30 minutos, com duracao de uns 7 minutos cada), adentramos no  recinto das apostas e bebidas, para que tivessemos uma visão mais previlegiada da corrida (além dos telões).

Não bebemos quase nada e apostamos sòmente  nos finalistas, mas no fim  do dia as barracas de apostas passaram a ser disputadíssimas pela maioria do público que  já estava  visívelmente alcoolizado.

Apesar do dia ter sido agradável, confesso que me indignei com o evidente fato das pessoas serem induzidas a apostar. Isto sem falar na parte mais requintada do evento, que nao visitei, mas que muito provavelmente deve se apostar um montante de dinheiro muito maior.

Aliás, é impressionante  a quantidade de lojas de apostas  em Londres. O  “forte” destas lojas sao as apostas   em corridas de cavalos e futebol, porém   pode se apostar em diversos outros esportes, além de ser possível  jogar bingo, pôquer e outros jogos.Tem se ainda a opcão de apostar  ou  jogar por internet   ou  celular, sempre via cartão de credito ou débito.

Conforme site da internet (Wikipedia/Bookmaker/UK), as apostas  não sòmente  são legalizadas  no Reino Unido, como contribuem para a economia do país, pois o montante arrecadado nestes estabelecimentos é investido , em grande parte no esporte; além da enorme geracão de empregos pois, sòmente  uma das empresas ,a “William Hill”  emprega atualmente  15 mil pessoas.

Mas deixando a visão crítica e voltando para as amenidades, este ano o Epsom  Derby, que ocorrerá em dois de junho próximo, está pronto para receber uma populacão de aproximadamente  200 mil pessoas, visto que  a rainha  já anunciou que terá inicio, neste dia e local, as festividades de seu Jubileu de Diamantes , que significa seus 60 anos de seu reinado (Jornal Evening Standard-03/04/12).


Ligia Kaysel