Monique, Aman, Prior e Marie Ann são alguns colegas queridos que passaram
ou ainda permanecem na minha vida durante estes quase três anos de
trabalho na minha empresa aqui em Londres. Por
ser uma empresa que possue como público alvo os imigrantes, a
maioria dos funcionários são imigrantes também.
Monique, uma queniana que cursou Economia no
Kenia e veio fazer MBA aqui em Londres, tem costumes refinados, e é
sensível a qualquer frase que soe levemente
preconceituosa em relação a sua cor, o fato de ser africana ou imigrante,
e protesta com muita veêmencia e bons argumentos.
Ela adora relatar as belezas naturais de seu país, e não gosta quando o
Kenia é retratado sómente pela sua pobreza.
Aman é
um muçulmano francês muito alegre e engraçado, mas que no mês
do Ramadã (jejum muçulmano, onde eles só podem alimentar-se e
beber líquidos no período da noite) ele fica magro, abatido e calado. Neste ano porém
ele fez diferente, ele tirou três semanas de férias e foi para o
Marrocos. No início achamos que ele
estava maluco pois nesta época do ano no Marrocos a
temperatura média durante o dia é de 43 graus. Como permanecer
sem beber líquidos com este calor?
Mas
ele e seus amigos tinham um plano. Como nesta época o comércio de
Marrakech, uma cidade turística marroquina, funciona durante toda a noite
devido ao Ramadã, eles dormiam o dia todo com ar condicionado
ligado no hotel, e desfrutavam as férias durante toda a noite.
Prior é um
polonês que, apesar de nunca ter cursado uma universidade,
entende do setor financeiro do Reino
Unido como poucos na minha empresa. Como muitos jovens de sua
idade, ele deixou seu país em busca de
novas experiências, além do valor da moeda aqui ser muito superior ao do seu
país. Mas no caso de Prior, houve um fator ainda mais definitivo para ele
deixar sua terra natal, ele é homosexual e a Polônia é um país extremamente
católico, com costumes arcaicos, o que faz com
que a vida de um homossexual lá se torne muito difícil.
Marie Ann
é uma típica garota inglesa de classe média baixa. Ela tem 29 anos
, é solteira, possue uma filha de 12 anos, e é completamente
sustentada pelo estado, através de benefícios sociais de transferência de
renda. Marie Ann trabalhou na minha empresa sómente por
alguns meses, então ela
engravidou e parou de trabalhar.
Marie Ann nunca havia
trabalhado antes, assim como sua mãe e muitas inglesas de mais de duas gerações. Estas mulheres sempre foram sustentadas completamente pelos referidos beneficios de transferência de renda
do estado. Estes beneficios sociais são muito bons para o bem estar
das crianças que podem desfrutar da presença materna em casa em tempo
integral. Porém quando as crianças já não precisam mais das
mães todo o tempo, estas mulheres sentem-se inúteis, sem
preparo para o mercado de trabalho, com baixa auto estima. É muito
comum então elas engravidarem novamente. Acho que foi o que aconteceu com Marie Ann. É lamentável pois são
mulheres jovens, que não possuem sonhos, ou planos
para o futuro.
Enfim, são
tantas histórias, que eu precisava de muito mais de um texto para relatar todas.
Sei que não vou trabalhar nesta empresa para o resto da vida, mas
nunca vou esquecer das pessoas que convivi como colegas, e que
atendi enquanto clientes; todas me fizeram entender mais sobre a vida e as
pessoas, me abriram horizontes e me mostraram como pessoas com realidades tão
diferentes podem conviver em harmonia.
Ligia Kaysel