Trabalhei durante muitos anos como advogada, técnica e gestora de programas sociais no Brasil.
Quando decidi mudar-me para o Reino Unido, pretendia trabalhar na mesma área, apesar de saber que não seria fácil.
O fato porém é que era muito mais difícil do que eu imaginava. Meu inglês era ruim e as vagas na Assistência Social, por serem muito bem renumeradas aqui, são disputadíssimas, sendo o ideal no primeiro ano, para construir sua experiencia na area, atuar como voluntário em programas sociais do pais.
Pra mim isso era impossível pois eu não podia ficar tanto tempo sem ser renumerada, precisava ajudar finanaceiramente meu marido nas despesas da casa.
Comecei então trabalhando meio período em um restaurante. Era um serviço pesado, que em nada me acrescentava enquanto pessoa, e eu não suportei mais de quatro meses.
Foi então que, procurando conhecer mais sobre meus direitos, descobri que, como cidadã européia que ja havia trabalhado por mais de 3 meses em Londres com contrato de trabalho, e meu marido ja estando trabalhando aqui há algum tempo, porém não sendo suficientemente bem renumerado para suprir com dignidade o sustento de sua esposa , tinha eu o direito a uma complementação de renda , através de programas de transferência de renda da Assistência Social inglesa.
Depois de diversas visitas a orgãos próprios do governo , e preeenchimento de diversos formulários ( no primeiro mundo também há muita burocracia na luta pelos nossos direitos), passei a receber o mesmo valor que recebia trabalhando meio período naquele restaurante, somado a um curso diário de inglês juntamente com técnicas de empregabilidade, em escola governamental destinada a imigrantes.
Estudei por um ano aproximadamente naquela escola, e foi para mim um “divisor de águas” em minha vivência aqui no Reino Unido. Lá pude, realmente sentir me como usuária da assistência social. Convivi, aconselhei me e apoiei me em dedicadas e comprometidas técnicas da assistência social londrina.
Meus colegas eram imigrantes de todas as partes do mundo: asilados árabes, africanos fugindo da fome e\ou da situação politica de seus países, mulheres muçulmanas, enfim, uma diversidade de pessoas através das quais me foi possivel conhecer diferentes realidades e formas diversas de enxergar o mundo. Definitivamente foi a melhor escola de vida que já experimentei.
Depois daquela rica experiência, empreguei me numa companhia financeira da qual trabalho até hoje, não havendo portanto mais a necessidade da complementação governamental de renda que recebia.
Durante estes 4 anos e meio em que resido em Londres, tive muitas experiências diferentes, conheci muitos lugares, mas nada se compara ao aprendizado que tenho obtido com as pessoas que convivi e convivo aqui.
Ligia Kaysel