segunda-feira, 22 de outubro de 2012

DE PROFISSIONAL DA ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL A USUÁRIA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL NO REINO UNIDO:



Trabalhei durante muitos anos como advogada, técnica e gestora de programas sociais no Brasil.
Quando decidi mudar-me para o Reino Unido, pretendia trabalhar na mesma área, apesar de saber que não seria fácil.
O fato  porém  é  que era  muito  mais difícil do que eu imaginava. Meu inglês era ruim e as vagas na Assistência Social, por serem  muito bem renumeradas aqui, são disputadíssimas,  sendo o ideal no primeiro ano,  para construir   sua experiencia na area, atuar como voluntário em programas  sociais do pais.
Pra mim isso era impossível pois eu não podia ficar tanto tempo sem ser renumerada, precisava ajudar  finanaceiramente meu marido   nas despesas da casa.
Comecei então trabalhando meio período em um restaurante. Era um serviço pesado, que  em nada me acrescentava enquanto pessoa, e eu  não suportei  mais de  quatro meses.
Foi então que, procurando conhecer mais sobre meus direitos,  descobri que, como cidadã européia que  ja havia trabalhado por mais de 3 meses em Londres com contrato de trabalho, e meu marido ja estando trabalhando aqui há algum tempo,  porém  não  sendo suficientemente bem renumerado para  suprir com dignidade o sustento de sua esposa ,   tinha  eu  o direito  a uma complementação  de renda ,  através de programas de transferência de renda da Assistência Social inglesa.
Depois de diversas visitas a orgãos próprios  do governo , e preeenchimento de diversos formulários ( no primeiro mundo também  há  muita  burocracia  na luta pelos nossos direitos), passei a receber o mesmo valor que recebia  trabalhando meio período naquele restaurante, somado a um curso diário  de inglês juntamente com técnicas  de empregabilidade, em escola governamental  destinada a imigrantes.
 Estudei por um ano  aproximadamente  naquela   escola, e foi para mim um  “divisor de águas”   em minha vivência aqui no Reino Unido. Lá pude, realmente  sentir  me  como usuária da assistência social. Convivi,  aconselhei  me e apoiei  me em  dedicadas e  comprometidas técnicas da assistência social londrina.
Meus colegas eram imigrantes de todas as partes do mundo: asilados árabes, africanos fugindo da fome e\ou da  situação politica de seus países, mulheres muçulmanas,  enfim, uma diversidade de pessoas  através das quais me  foi   possivel conhecer diferentes realidades e formas diversas de enxergar o mundo.  Definitivamente  foi a melhor escola de vida que já  experimentei.
Depois daquela rica experiência, empreguei me numa companhia financeira da qual trabalho até hoje, não havendo   portanto mais a  necessidade da  complementação governamental  de renda que recebia.
Durante estes 4 anos e meio em que resido em Londres, tive muitas experiências diferentes, conheci muitos lugares, mas nada se compara ao aprendizado que  tenho obtido com as pessoas  que convivi  e convivo aqui.
Ligia Kaysel