Há alguns meses atras atendi em meu trabalho um cliente muito especial. Mark fala fluentemente o português e o espanhol , sem nunca ter estudado a lingua portuesa ou espanhola formalmente ou ter saido do Reino Unido.
Mark,tem 27 anos, nao trabalha nem tampouco estuda em escola formal, sendo beneficiado por programa governamental de transferencia de renda por incapacidade (física ou mental), além do governo subsidiar o hostel onde reside em dormitório individual.
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Ao pesquisar seu completo histórico de crédito no Reino Unido, percebo que seu penúltimo endereco foi uma casa para pessoas com problemas de saúde mental.
Mark deve ter uma relacão razoável com seus genitores pois, forneceu-os como referências em sua applicacao de empréstimo, apesar de contar-me que reside há muitos anos sózinho.
Mark contou me também que nao tem muitos gastos pois nao costuma sair com amigos, prefere ficar em seu quarto na internet.
Este cliente inglês, fez me lembrar de um usuario do Programa para Meninos e Meninas de Rua em que eu trabalhei no Brasil entre 2005 e 2008, o Marcos.
Marcos tinha na época 16 anos, cursou poucos anos de escola formal, mas escrevia poesias, e como conseguia expressar-se com beleza e sentimento em suas poesias.
Marcos sofreu muita violência doméstica física na infância e com 13 anos já estava resididindo nas ruas. Era solitário e não apreciava a companhia de garotos e garotas de sua idade.
O trabalho que a Assistência Social realizou para devolve-lo a sua famíia de origem não logrou resultados posistivos e, como a única opcão para garotos com mais de 12 anos com historico de moradia nas ruas no Brasil sao os abrigos (antigos orfanatos), foi remetido para um deles. Como não suportava o convívio social, e nos abrigos o adolescente é obrigado a compartilhar até mesmo seu dormitorio, com pelo menos mais 4 ou 5 adolescentes, Marcos fugia com frequência e algumas vezes se descontrolava completamente psiquicamente, tornando-se extremamente agressivo, quebrando pertences do local, agredindo funcionários e colegas.
Depois de 3 anos de tentativas de convivência em abrigos, em 2008 ele já tinha sido diagnosticado como portador de problemas de saúde mental. Os especialistas que o diagnosticaram porém, tinham o entendimento de que o melhor para seu quadro clínico era possuir uma vida mais próxima possivel da normalidade, com uma medicacão controlada e constante, mas sem ter que residir numa casa para doentes mentais. Nenhum abrigo do municipio porém, o desejava mais, especialmente porque quando ele fugia, tinha sua medicacão interrompida, o que fazia com que seus surtos de agressividade continuassem .
O que me faz ligar os dois casos, além da genialidade de ambos (o dom de Mark para linguas estrangeiras e de Marcos para a poesia) é o fato de que é possível que Mark deva ter tido os mesmos problemas comportamentais de Mauro, mas a solucão goverrnamental encontrada foi susutentar Mark em suas demandas e hoje, apesar de solitário, é um cidadão com todos os seus direitos preservados.
Nao sei como está Mauro três anos depois, espero que tenham encontrado uma solucão para seu caso. Mas penso que é possível que atualmente Mauro já tenha entrado no sistema penintenciario, devido a ter passado dos 18 anos, e a violência com que agia em seus momentos de crise.
As vezes me pego achando paternalista demais o sistema de subsídios sociais aqui no Reino Unido (e há uma grande discussão a este respeito atualmente, devido a crise financeira que o país está atravessando) mas entendo também que é obrigacão do Estado tratar cada cidadão como um ser único, tratar diferentemente as diferencas.
Ligia Kaysel.
Um comentário:
Concordo que é papel do Estado cuidar de sua população, afinal, ele não pode servir apenas para quem tem $ ou consegue se inserir no dito mercado de trabalho. O Estado é para todos e que bom que no antigo mundo ele funciona assim. Adorei o post, Ligia, parabéns!! sua sensibilidade fez/faz falta neste país de compadrios..
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