domingo, 4 de novembro de 2012

Meu cliente é um adicto em recuperação:




A companhia financeira em que trabalho aqui em Londres tem como estratégia para proceder a empréstimos, a construção de vínculos com seus clientes, para  compreender  melhor suas  caracteristicas e necessidades, e  perceber  os riscos  de cada empréstimo. Para mim porém, fica  algumas vezes , a sensação de um trabalho pela metade.

Através dos questionamentos que temos que proceder, somados a documentos por nós solicitados, conseguimos levantar certas demandas dos clientes, sem porém poder   acolhe-las em muitos casos.

Frank foi  um destes clientes. Ele  tem 47 anos, e há dois anos trabalha na construção civil com bom salário, há dois anos também, reside na mesma residencia, há dois anos conhece as pessoas de referencia que me forneceu e, em sua história de crédito verifico que há sómente dois anos que possui sua conta bancária, apesar de ter nascido em Londres e nunca ter saído do país. Como foi a vida de Frank nos seus primeiros 45 anos de vida?

Sua resposta porém foi me  impactante: . “Foi a base de wisky e cocaina, entre abrigos e a vivencia nas  ruas”.  Mas me informa em seguida com satisfação, que há dois anos se recuperou totalmente  das drogas e alcool e iniciou uma nova vida.

Analizando porém mais detalhadamente seus últimos extratos bancários , verifico que sua recuperação talvez nao  tenha sido completa , pois nos últimos  meses passou a gastar somas consideráveis   em  lojas de  apostas (muito comuns aqui em UK).. Na verdade Frank e um adicto em recuperacao.
Conheco de perto esta realidade,  e sei que estas pessoas nunca se  recuperam  por completo. Mesmo que  um  ex-alcoolatra esteja há mais de 5 anos  sem beber ,  o primeiro gole pode ser fatal no sentido de   retornar ao  alcoolismo. 

Há  ainda a questão  da  substituição de vícios,  que é o que creio que estava ocorrendo com Frank, (das drogas e alcool para  as apostas). Na verdade os adictos em recuperação são  na maioria das vezes, extremamente sensiveis psicológicamente., especialmente nos primeiros anos de recuperação.
A política da minha empresa determina que, em  caso de  clientes que gastam consideráveis  somas  de dinheiro em casas de apostas, devemos  declinar ao empréstimo solicitado.

Informo-lhe, da melhor maneira  que posso, sobre a  necessidade de declinar a sua aplicação de empréstimo . 

Frank sente-se, visivelmente  angustiado e  revoltado. Senti que naquele momento eu lhe fiz um grande  mal, não por deixar de emprestar-lhe o dinheiro  requerido, mas por não poder oferecer lhe   nenhum tipo de acolhimento, depois da demanda  que levantei,   elaborando todas  aquelas perguntas e pesquisas sobre  sua vida.

Ligia Kaysel

2 comentários:

Blog da Eliana e suas viagens disse...

Que legal a sua visão Ligia, apesar de estar em um trabalho burocrático, vc não perdeu a referencia do todo, do social...Legal que a sua experiencia de vida aqui no Brasil, te reporte para outra realidade ai, em outro país, mas com a mesma sensibilidade, quem sabe as coisas podem ser mudadas, e apesar de não oferecer o empréstimo, possa oferecer outro tipo de ajuda...Bjus

Unknown disse...

E verdade Eliana, isso e que sempre quis nesta empresa, e ja propus para os gerents tb, mas imfelizmente nao fui ouvida.Bjs