domingo, 22 de abril de 2012

O BAIRRO QUE EU TRABALHAVA:




Trabalho em  uma empresa que fornece micocrédito  para pessoas de baixa renda. São 15 lojas em  empobrecidos  bairros  de  Londres.

Por quase dois anos trabalhei em um bairro onde há a  predominância de  imigrantes Somalis  e seus descendentes, de  maioria muçulmana.

É um bairro muito interessante. Existe, por exemplo, um mercado com   diversas bancas que vendem  uma   enorme  variedade  de “hijab” (véu que cobre os cabelos, orelha e pescoco, deixando visível apenas o rosto), bordados, rendados, de diversos tecidos e cores que, expostos nas  manequins, são realmente  muito delicados e bonitos. Lembro me de um colega muçulmano,  que trabalhou comigo naquela loja,  que relatou  me um dia  o “quão”  lindo e sedutor   era,  do seu ponto de vista, as jovens que trajavam  véus.

A  quantidade e diversidade de meias finas, até a altura das coxas para mulheres, dos mais diversos modelos, cores e rendas, chamavam-me  também a atenção pois, provavelmente deve ser um importante ítem de sedução feminina  dentro de casa (visto que fora de casa elas estão sempre com  roupas compridas).

Há também, na rua da minha antiga  loja,  uma doceria  com   deliciosos  produtos típicos  do oriente,  onde  é o  “ponto de encontro”  dos jovens muçulmanas daquela comunidade.  As  jovens, cobertas por longos vestidos  com mangas compridas  e com o “hijad” sobre a cabeça, mas   bem maquiadas e com as unhas cuidadosamente pintadas, nunca sentam se junto aos rapazes, mas depois de algum tempo no lugar,  percebe-se  a troca de olhares e sorrisos, uma discreta  “paquera” entre eles.

Há   ainda um estabelecimento, vizinho a  minha  ex-loja, de  vestidos finos para mulheres muçulcanas, cuja gerente (ou proprietaria, não sei) é mal humorada e tem olhos verdes. Digo mal humorada   pois   houve uma   época  que tentamos, meus colegas de trabalho e eu, nos aproximarmos da mesma sem sucesso . Cito seus olhos verdes  por   ser a  a  única parte de seu corpo  que    era  possível  se  visualizar ,  visto que ela usava   o “ Niqab” (véu integral com um acessório individual que cobre o rosto da mulher,  deixando  sòmente os olhos expostos). Pelos seus olhos podíamos ver que  ela posssuia pele clara,  era bem jovem e deveria ser bonita.

Há um mês fui transferida para uma outra loja da minha empresa, mais perto de minha casa. Neste bairro já não vejo muitos muçulmanos,   porém é um bairro onde há predominância  de   nigerianos  e  jamaicanos.

E assim vai se formando Londres, como uma colcha de retalhos, onde cada país ou grupo de países   é representado num bairro ou região, tornando cada lugar um lugar peculiar e único.

LIGIA KAYSEL

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