Ontem, voltando para casa de metrô, deparei-me com uma cena inusitada.
Eu estava num vagão onde havia uma criança inglesa de aproximadamente cinco anos, quando entrou no
nosso vagão duas mulheres muçulmanas vestidas totalmente de preto, somente com
os olhos a vista, com duas crianças: um bebê e uma garotinha de também
aproximadamente cinco anos. A mulher mais jovem
orientou então a criança mais velha a sentar-se no
único lugar disponível do vagão, que era ao lado da menina inglesa.
A garotinha inglesa quando vizualisou uma provável
companheira de brincadeiras, começou a
tentar uma conversa com a
possível amiguinha.
A menininha muçulmana no início se assustou, olhou
para as duas mulheres cobertas por véus,
desejando aprovação. As mulheres vestidas de negro, através de seus olhares,
demonstraram indiferença ao olhar da garotinha, fazendo com que a mesma começasse a sentir-se mais a vontade, esboçando no início um tímido sorriso.
Com o tempo as duas estavam se divertindo com os
adesivos que a primeira tinha trazido consigo, colando e descolando em todos os
lugares ao redor das mesmas. A fisionomia dos presentes no vagão, grande parte composto por turistas
que voltavam das competições
olímpicas, era de encantamento.
Quando chegaram ao seus destinos, as crianças despediram-se
abanando suas pequenas mãozinhas.
Fiquei então
pensando o quanto estas menininhas
tinham a nos ensinar. A inglezinha,
diferentemente de seu próprio povo que possui,
na maioria das vezes, muito preconceito contra os muçulmanos; enxergou sómente uma garotinha de sua idade com quem pudesse brincar. A outra, no início,
temerosa por perceber, apesar da pouca idade, a hostilidade que seus
familiares muçulmanos sentem em
relação aos ocidentais, com o tempo, foi percebendo na menina inglesa, nada mais
do que uma garotinha da sua idade que podia ser
sua companheira nas brincadeiras.
Sentir o outro como um igual, não se importando qual é
a raça, cor, religião ou posição social, é um sentimento mágico para obtenção de um mundo menos desigual. A criança
nasce com esta sabedoria, mas os adultos
a ensinam a esquecer.
Ligia
Kaysel
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