terça-feira, 7 de agosto de 2012

As menininhas do metrô:


                                          

Ontem, voltando para casa de metrô, deparei-me  com uma cena  inusitada.

Eu estava num vagão onde havia  uma criança inglesa  de aproximadamente cinco anos, quando entrou no nosso vagão duas mulheres muçulmanas vestidas totalmente de preto, somente com os olhos a vista, com duas crianças: um bebê e uma garotinha de também aproximadamente cinco anos.  A mulher  mais jovem  orientou  então a criança mais velha   a sentar-se  no único lugar disponível do vagão, que era ao lado da menina inglesa.

A garotinha inglesa quando vizualisou uma provável companheira  de brincadeiras,  começou a  tentar  uma conversa com a possível amiguinha.

A menininha muçulmana no início se assustou, olhou para as duas mulheres  cobertas por véus, desejando aprovação. As mulheres vestidas de negro, através de seus olhares, demonstraram indiferença ao olhar da garotinha, fazendo com que a  mesma começasse a sentir-se  mais a vontade, esboçando  no início um tímido sorriso.

Com o tempo as duas estavam se divertindo com os adesivos que a primeira tinha trazido  consigo, colando e descolando em todos os lugares  ao redor  das mesmas. A fisionomia dos presentes  no vagão, grande parte composto por turistas que voltavam  das  competições  olímpicas, era de encantamento.

Quando chegaram ao seus  destinos, as crianças  despediram-se abanando  suas  pequenas mãozinhas.

 Fiquei então pensando o quanto  estas menininhas tinham  a nos ensinar. A inglezinha, diferentemente de seu próprio povo que possui,  na maioria das vezes, muito preconceito contra os muçulmanos; enxergou  sómente  uma garotinha de sua idade  com quem pudesse brincar. A outra, no início, temerosa por perceber, apesar da pouca idade, a hostilidade que seus familiares  muçulmanos  sentem  em relação aos ocidentais, com o  tempo, foi  percebendo  na menina inglesa,  nada mais do que uma garotinha da sua idade que podia ser  sua companheira  nas brincadeiras.

Sentir o outro como um igual, não se importando qual é a raça, cor, religião ou posição social, é um sentimento mágico  para obtenção de um mundo menos desigual. A criança nasce  com esta sabedoria, mas os adultos a ensinam a esquecer.

Ligia Kaysel

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