sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Campinas, dois de novembro de 2013 Voltando a residir no Brasil



E então já fazem oito meses que voltei a residir no Brasil.

Muita emoção, alegria e  medo no retorno,

Temperatura quente, calor ruim,

Mas café quentinho na casa da minha mãe,

Encontros, festas, alegria,

Introspecção, vontade de ficar sózinha,

Filhos, noras, casa cheia, coração aberto,

Novas perspectivas  de vizualizar as mesmas pessoas e situações,

Longos papos com minha  irmã do coração,  e com outras pessoas queridas,

Violência, corrupção, mídia comprada, falsidade,

Trabalho gratificante, novos desafios,

Feliz.

Mas de vez em quando dá uma saudade imensa daquela Londres que ainda  sinto  que é um pouco minha, das pessoas, da cidade, dos passeios,

Um mundo ás vezes mágico, ás vezes louco, ás vezes triste, mas nunca comum,

Foram os  cinco anos mais intensamente vividos  em toda a  minha vida.


Lígia Kaysel



domingo, 4 de novembro de 2012

Meu cliente é um adicto em recuperação:




A companhia financeira em que trabalho aqui em Londres tem como estratégia para proceder a empréstimos, a construção de vínculos com seus clientes, para  compreender  melhor suas  caracteristicas e necessidades, e  perceber  os riscos  de cada empréstimo. Para mim porém, fica  algumas vezes , a sensação de um trabalho pela metade.

Através dos questionamentos que temos que proceder, somados a documentos por nós solicitados, conseguimos levantar certas demandas dos clientes, sem porém poder   acolhe-las em muitos casos.

Frank foi  um destes clientes. Ele  tem 47 anos, e há dois anos trabalha na construção civil com bom salário, há dois anos também, reside na mesma residencia, há dois anos conhece as pessoas de referencia que me forneceu e, em sua história de crédito verifico que há sómente dois anos que possui sua conta bancária, apesar de ter nascido em Londres e nunca ter saído do país. Como foi a vida de Frank nos seus primeiros 45 anos de vida?

Sua resposta porém foi me  impactante: . “Foi a base de wisky e cocaina, entre abrigos e a vivencia nas  ruas”.  Mas me informa em seguida com satisfação, que há dois anos se recuperou totalmente  das drogas e alcool e iniciou uma nova vida.

Analizando porém mais detalhadamente seus últimos extratos bancários , verifico que sua recuperação talvez nao  tenha sido completa , pois nos últimos  meses passou a gastar somas consideráveis   em  lojas de  apostas (muito comuns aqui em UK).. Na verdade Frank e um adicto em recuperacao.
Conheco de perto esta realidade,  e sei que estas pessoas nunca se  recuperam  por completo. Mesmo que  um  ex-alcoolatra esteja há mais de 5 anos  sem beber ,  o primeiro gole pode ser fatal no sentido de   retornar ao  alcoolismo. 

Há  ainda a questão  da  substituição de vícios,  que é o que creio que estava ocorrendo com Frank, (das drogas e alcool para  as apostas). Na verdade os adictos em recuperação são  na maioria das vezes, extremamente sensiveis psicológicamente., especialmente nos primeiros anos de recuperação.
A política da minha empresa determina que, em  caso de  clientes que gastam consideráveis  somas  de dinheiro em casas de apostas, devemos  declinar ao empréstimo solicitado.

Informo-lhe, da melhor maneira  que posso, sobre a  necessidade de declinar a sua aplicação de empréstimo . 

Frank sente-se, visivelmente  angustiado e  revoltado. Senti que naquele momento eu lhe fiz um grande  mal, não por deixar de emprestar-lhe o dinheiro  requerido, mas por não poder oferecer lhe   nenhum tipo de acolhimento, depois da demanda  que levantei,   elaborando todas  aquelas perguntas e pesquisas sobre  sua vida.

Ligia Kaysel

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

DE PROFISSIONAL DA ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL A USUÁRIA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL NO REINO UNIDO:



Trabalhei durante muitos anos como advogada, técnica e gestora de programas sociais no Brasil.
Quando decidi mudar-me para o Reino Unido, pretendia trabalhar na mesma área, apesar de saber que não seria fácil.
O fato  porém  é  que era  muito  mais difícil do que eu imaginava. Meu inglês era ruim e as vagas na Assistência Social, por serem  muito bem renumeradas aqui, são disputadíssimas,  sendo o ideal no primeiro ano,  para construir   sua experiencia na area, atuar como voluntário em programas  sociais do pais.
Pra mim isso era impossível pois eu não podia ficar tanto tempo sem ser renumerada, precisava ajudar  finanaceiramente meu marido   nas despesas da casa.
Comecei então trabalhando meio período em um restaurante. Era um serviço pesado, que  em nada me acrescentava enquanto pessoa, e eu  não suportei  mais de  quatro meses.
Foi então que, procurando conhecer mais sobre meus direitos,  descobri que, como cidadã européia que  ja havia trabalhado por mais de 3 meses em Londres com contrato de trabalho, e meu marido ja estando trabalhando aqui há algum tempo,  porém  não  sendo suficientemente bem renumerado para  suprir com dignidade o sustento de sua esposa ,   tinha  eu  o direito  a uma complementação  de renda ,  através de programas de transferência de renda da Assistência Social inglesa.
Depois de diversas visitas a orgãos próprios  do governo , e preeenchimento de diversos formulários ( no primeiro mundo também  há  muita  burocracia  na luta pelos nossos direitos), passei a receber o mesmo valor que recebia  trabalhando meio período naquele restaurante, somado a um curso diário  de inglês juntamente com técnicas  de empregabilidade, em escola governamental  destinada a imigrantes.
 Estudei por um ano  aproximadamente  naquela   escola, e foi para mim um  “divisor de águas”   em minha vivência aqui no Reino Unido. Lá pude, realmente  sentir  me  como usuária da assistência social. Convivi,  aconselhei  me e apoiei  me em  dedicadas e  comprometidas técnicas da assistência social londrina.
Meus colegas eram imigrantes de todas as partes do mundo: asilados árabes, africanos fugindo da fome e\ou da  situação politica de seus países, mulheres muçulmanas,  enfim, uma diversidade de pessoas  através das quais me  foi   possivel conhecer diferentes realidades e formas diversas de enxergar o mundo.  Definitivamente  foi a melhor escola de vida que já  experimentei.
Depois daquela rica experiência, empreguei me numa companhia financeira da qual trabalho até hoje, não havendo   portanto mais a  necessidade da  complementação governamental  de renda que recebia.
Durante estes 4 anos e meio em que resido em Londres, tive muitas experiências diferentes, conheci muitos lugares, mas nada se compara ao aprendizado que  tenho obtido com as pessoas  que convivi  e convivo aqui.
Ligia Kaysel

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Um pouco da politica de Assistencia Social do Reino Unido (acentuacao deficiente)


Sempre ouvi falar que a europa é um continente de velhos, visto a baixa  taxa de natalidade .Isto pode ser verdade em grande parte do continente mas não em Londres.

 No Reino Unido  ter filhos  pode ser  um ”bom negocio”. Explico:- A politica de assistencia social daqui, referente a crianças e adolescentes  é muito bem intencionada.  Supõe-se (como eu acredito que seja mesmo, na maioria das vezes) que o ideal para uma criança, e ser cuidada por sua  genitora  portanto, para que as mesmas tenham disponibilidade para seus filhos em tempo integral, sem precisar trabalhar, nos  seus primeiros  16 anos de vida,o governo provém  subsidio suficiente para que a genitora possa ficar em casa cuidando de seus filhos .Naturalmente se a mesma conseguir provar que não possui renda suficiente, proveniente de outros meios, como do salário do genitor, companheiro, ou mesmo por  imoveis alugados de sua propriedade por exemplo.

Também é fato que não é saudável para uma criança dormir no mesmo dormitório de seus pais, nem tampouco que meninos e meninas compartilhem do  mesmo quarto. Portanto, se   a familia  possue  filhos, e não ganha um salário suficientemente bom para pagar o aluguel de uma residencia com 2  ou 3 quartos, a mesma possue o direito de pleitear do governo ajuda, ou ate mesmo a totalidade, dependendo da sua renda, no aluguel de uma residencia de 2 quartos, para familias com uma só crianca ou  com criancas do mesmo sexo, ou de 3 quartos, para familias que possuem meninos e meninas.

Acho mesmo esta politica teoricamente brilhante, porém  a  sociedade ideal não existe e, esta politica já atravessa algumas gerações, tendo  criado situações sociais caóticas como:

                    Garotas jovens que desejam residir sozinhas com independencia financeira, decidirem ter  filhos.
                          Genitores muitas vezes sentirem se desobrigados de sustentar seus filhos.
                        Familias passarem a gerar mais filhos do  que pretendiam inicialmente, devido a falsa idéia de que iráo receber mais dinheiro, sem pensar na equivalencia dos gastos.
                       Mulheres que deixaram uma vida produtiva de trabalho para criarem seus filhos,  possuirem, depois de muitos anos em casa, dificuldades  em reiniciarem-se  em uma carreira.

 Enfim, depois de algumas gerações, esta politica de beneficios para criancas e adolescentes está sendo revista, não só pelas distorções criadas, como também devido a crise financeira que  assola  o Reino Unido atualmente.

                        Mas mudar mentalidades nao é  facil, e o novo governo esta enfrentando  fortes  resistencias frente a este novo desafio.


Ligia Kaysel 



terça-feira, 11 de setembro de 2012

A lei das cotas nas Universidades Brasileiras é uma medida justa?



A desigualdade  social no Brasil e  a  quarta  maior  do mundo.
Segundo o censo do  IBGE  do ano de  2010, 53% da população brasileira  se entitula negra, parda ou indigena  e  63%  dos  brasileiros que   recebem menos que um salário minimo mensal  são  pardos ou negros.
Nos termos do Blog de Mario Marona-Em Defesa das Cotas- de 27/08/12- " A profunda desigualdade entre brancos e negros não é culpa do Fernando Henrique nem do Lula e, a rigor, nem dos brancos que vivem no Brasil de hoje. Trata-se, sem dúvida, e imagino que todos concordam com isso, de uma injustiça histórica, praticada em 388 anos de duração da escravidão e, mesmo depois da abolição, nunca corrigida em sua totalidade.

Uma injustiça deste tamanho não será corrigida "naturalmente", a não ser por meio de ações afirmativas - estímulos, leis, imposições etc. Não se pode aguardar que uma injustiça deste tamanho, em pleno século 21, seja resolvida de maneira gradual, sem interferência direta de instâncias de poder - empresas, organizações civis, Estado, Legislativo, Judiciário".
 Considerando que  o impulso  decisivo para a ascensão social no Brasil  é o nivel de escolaridade, faz-se necessário  então um massivo investimento na educação da população   negra, para corrigir injustica social tão antiga.
A maioria dos negros, pardos e indigenas  no Brasil  porém frequentam  escolas públicas, que  são de forma geral  de má qualidade.
As melhores universidades são públicas mas  são frequentadas,  na sua  maior parte, por  brancos  que  cursaram  boas  escolas particulares, havendo desta forma mais possibilidade dos mesmos  ingressarem   na dificil seleção que  há nestas   universidades.  
  
O  ingresso dos alunos mais empobrecidos nas  universidades públicas poderia  dar-se através da melhoria do ensino público básico, fazendo com que a disputa  por uma vaga   se desse  em igualdade de condições  entre alunos de escolas públicas e privadas.
Há  mais de 40 anos porém  que  as escolas públicas brasileiras são de má  qualidade, (somente  foram melhores  nos anos 60), há  mais de 40 anos que é   prometido  por diversas esferas governamentais a melhora da educação pública, sem resultados positivos. Quanto tempo mais os   cidadãos brasileiros pardos e negros   terão que esperar?
No final  de agosto deste ano   porém,   a presidente Dilma deu um importante passo para correção desta imensa injustica social. Ela aprovou a lei de cotas nas universidades públicas brasileiras. Nos termos desta lei todas as universidades públicas federais terão que reservar no minimo 50% de suas vagas para estudantes  que cursaram todo o ensino médio em escolas públicas, com distribuição de vagas entre negros, pardos e  indigenas, proporcional a composição da população de cada Estado.
A secretária de Politicas  Públicas de Promocão da Igualdade Racial da Presidência da República prevê que com a Lei das Cotas, ampliar-se-á  de 8,7 mil para 52 mil o número de estudantes pardos e negros que ingressarão  anualmente nas universidades (Página do Senado Federal na Web-10.09.12)
Com a aprovação   desta lei ,  é  provável que, num primeiro momento haja  por parte da população branca que estudou nas escolas privadas, um sentimento de   indignação  pois, tornar-se-á  muito   mais  dificil o ingresso dos mesmos  nas universidades  públicas, mas naturalmente que a referida  "injustiça"  é infinitamente menor do que a sofrida pelos  indigenas, pardos e negros  brasileiros ao longo dos ultimos 400 anos de história. 
O sistema de cotas nas universidades públicas  é  um  passo histórico para a população brasileira, brancos, pardos   negros, se verem como iguais  a médio prazo.
Ligia  Kaysel


segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Meus colegas de trabalho;


Monique, Aman, Prior e Marie Ann são alguns colegas queridos que passaram ou ainda permanecem  na minha vida durante estes  quase  três anos de trabalho na minha empresa aqui em Londres. Por ser uma empresa que  possue  como público alvo os imigrantes, a maioria dos funcionários são imigrantes também.

 Monique, uma queniana que cursou Economia no Kenia e veio fazer MBA aqui em Londres, tem  costumes refinados, e  é sensível  a  qualquer  frase que soe  levemente preconceituosa em relação a sua cor, o fato de ser africana ou imigrante,  e protesta  com muita  veêmencia  e bons argumentos. Ela adora relatar as belezas  naturais de seu país, e não gosta quando o Kenia é  retratado  sómente pela  sua pobreza. 

Aman é um  muçulmano francês  muito alegre e engraçado, mas  que no mês do Ramadã (jejum muçulmano, onde  eles só podem alimentar-se e beber líquidos  no  período   da noite) ele fica magro, abatido e calado. Neste ano porém  ele fez diferente, ele tirou três semanas de férias e foi para o Marrocos. No início achamos que  ele estava maluco pois  nesta época  do ano  no  Marrocos a temperatura média durante o  dia é  de 43 graus. Como permanecer sem beber líquidos  com este calor?
Mas ele  e seus amigos tinham  um plano. Como nesta época o comércio de Marrakech, uma cidade turística marroquina,  funciona durante toda a noite devido ao Ramadã, eles  dormiam  o dia todo com ar condicionado  ligado no hotel, e  desfrutavam as férias  durante toda a noite.

Prior é um polonês  que,  apesar de nunca ter cursado uma universidade, entende  do setor financeiro  do Reino Unido  como  poucos na minha empresa. Como muitos jovens de sua idade, ele  deixou seu país em busca de novas experiências, além do valor da moeda aqui ser muito superior ao do seu país. Mas no caso de Prior, houve um fator ainda mais definitivo para ele deixar sua terra natal, ele é homosexual e a Polônia é um país extremamente católico, com costumes  arcaicos, o que faz com que a vida de um homossexual  lá se torne muito difícil.

 Marie Ann é uma típica garota inglesa de classe média baixa.  Ela tem  29 anos , é solteira, possue uma filha de 12 anos,  e  é  completamente sustentada pelo estado, através de benefícios  sociais de transferência de renda. Marie Ann trabalhou   na minha empresa sómente  por alguns meses, então  ela engravidou  e  parou de trabalhar.

Marie Ann nunca  havia  trabalhado antes,  assim como sua mãe e  muitas inglesas  de mais de duas gerações. Estas mulheres sempre foram  sustentadas  completamente  pelos referidos beneficios de transferência de renda do estado. Estes beneficios sociais são   muito bons para o bem estar das  crianças que podem desfrutar da presença materna em casa em tempo integral.  Porém quando as crianças  já não precisam mais das mães  todo o tempo,  estas mulheres  sentem-se inúteis, sem preparo para o  mercado de trabalho, com baixa auto estima.  É muito comum  então elas engravidarem novamente.  Acho que foi o que aconteceu com  Marie Ann. É  lamentável  pois  são mulheres jovens,  que não  possuem  sonhos,  ou planos para o futuro.

 Enfim, são tantas histórias,  que  eu precisava de  muito mais de um texto para relatar  todas. 

Sei que não vou trabalhar nesta empresa  para o resto da vida, mas nunca vou esquecer  das pessoas que convivi como colegas, e que  atendi enquanto clientes; todas me fizeram entender mais sobre a vida e as pessoas, me abriram horizontes e me mostraram como pessoas com realidades tão diferentes podem conviver  em harmonia.

Ligia Kaysel


terça-feira, 7 de agosto de 2012

As menininhas do metrô:


                                          

Ontem, voltando para casa de metrô, deparei-me  com uma cena  inusitada.

Eu estava num vagão onde havia  uma criança inglesa  de aproximadamente cinco anos, quando entrou no nosso vagão duas mulheres muçulmanas vestidas totalmente de preto, somente com os olhos a vista, com duas crianças: um bebê e uma garotinha de também aproximadamente cinco anos.  A mulher  mais jovem  orientou  então a criança mais velha   a sentar-se  no único lugar disponível do vagão, que era ao lado da menina inglesa.

A garotinha inglesa quando vizualisou uma provável companheira  de brincadeiras,  começou a  tentar  uma conversa com a possível amiguinha.

A menininha muçulmana no início se assustou, olhou para as duas mulheres  cobertas por véus, desejando aprovação. As mulheres vestidas de negro, através de seus olhares, demonstraram indiferença ao olhar da garotinha, fazendo com que a  mesma começasse a sentir-se  mais a vontade, esboçando  no início um tímido sorriso.

Com o tempo as duas estavam se divertindo com os adesivos que a primeira tinha trazido  consigo, colando e descolando em todos os lugares  ao redor  das mesmas. A fisionomia dos presentes  no vagão, grande parte composto por turistas que voltavam  das  competições  olímpicas, era de encantamento.

Quando chegaram ao seus  destinos, as crianças  despediram-se abanando  suas  pequenas mãozinhas.

 Fiquei então pensando o quanto  estas menininhas tinham  a nos ensinar. A inglezinha, diferentemente de seu próprio povo que possui,  na maioria das vezes, muito preconceito contra os muçulmanos; enxergou  sómente  uma garotinha de sua idade  com quem pudesse brincar. A outra, no início, temerosa por perceber, apesar da pouca idade, a hostilidade que seus familiares  muçulmanos  sentem  em relação aos ocidentais, com o  tempo, foi  percebendo  na menina inglesa,  nada mais do que uma garotinha da sua idade que podia ser  sua companheira  nas brincadeiras.

Sentir o outro como um igual, não se importando qual é a raça, cor, religião ou posição social, é um sentimento mágico  para obtenção de um mundo menos desigual. A criança nasce  com esta sabedoria, mas os adultos a ensinam a esquecer.

Ligia Kaysel

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Os “ Lovers Boys”(exploracao sexual)(sem acentuacao adequada)



O mês passado assisti a um documentario na  TV Al Jazeera (programa Witness-11.06.12) sobre os chamados “Lovers Boys”.

O programa descreve o alto índice de exploraçâo  sexual  na Holanda de garotas pelos seus“namorados”. São os “Lovers Boys”, jovens imigrantes de origem marroquina e\ou seus descendentes.

Estes garotos pertencem a comunidades muçulmanas e marroquinas   na Holanda (há um grand numero delas lá), e os holandeses de forma geral os tratam com desprezo. São  jovens que sofrem  diversos tipos de  preconceitos naquele país, desde  a falta de  oportunidades de empregos, até a proibição de suas  estadias em alguns clubes e estabelecimentos  comerciais.

Os “lovers boys” se envolvem amorosamente com garotas holandesas e com o tempo as obrigam  a se prostituirem como forma de lucro para  eles, através muitas vezes,  de violência  fisica e\ou psicológica (ameaças de morte).

Analizando porém mais profundamente a questão, é fácil concluir  que este é um tema recorrente em todo o mundo isto é, a desigualdade por preconceitos  raciais  e\ou  referente a classes sociais  fazendo  suas vitimas das mais diferentes formas. Se no Brasil ela pode se dar  atraves , por exemplo, de um crime com arma de fogo (visto o grau de impunidade  brasileira), na Holanda  os jovens estimatizados   pela sua procedência, procuram formas mais criativas de obterem lucros das classes dominantes.

O fato é que,todas as populações são ao mesmo tempo vítimas e algozes. A classe dominante tinsegura, se encarcera em  condominios  fechados, com mêdo de sair às ruas, desconfiando de tudo e de  todos, ou são enganadas por uma paixão de sangue marroquino como  na Holanda; porém sempre  reprimindo estes crimes com formas cada vez mais violentas de agir (cumprimento da lei somada a violência  do orgão repressor em maior ou menor grau em todo o mundo); e  a classe dominada ,revoltada pelas  injusticas  sofridas, praticando atos  ilícitos cada vez mais violentos,  mas também insegura em relação a ser punida  pelos  seus atos, sempre fugindo dos orgãos repressores.

E claríssimo que, uma sociedade mais igualitária é a solução para estas questões, mas  para isso é preciso governanates corajosos,sem o famoso “rabo preso” gerado pelas suas campanhas eleitorais  ou outros  “compromissos”, e muita conscientização  politica  por parte de toda a sociedade.

O que  não está  claro para o mundo  ainda  é que, a violência  não é a solução, nem a curto  nem a longo prazo, nem para opressores  nem para oprimidos. Violência gera mais violência.  Pessoas,opressores e oprimidos, que vivem diariamente em comunidades e cidades  violentas, com o tempo tendem-se  a  não se  abalarem  mais tanto com elas, porém viver em paz é o caminho  para geração da felicidade em qualquer comunidade  do mundo.  E os caminhos para a obtenção da paz ,com certeza não passam  por qualquer meio violento de agir.

 Poder andar nas  ruas a noite sem medo de assaltos, viver em casa de muros baixos, sem grades nas janelas , poder confiar mais nas pessoas é um “bem”  que não tem .preço. E para se conquistar este tão precioso “bem” não há outra alternativa a não ser a melhor distribuição de renda e maior igualdade social.

 Ligia Kaysel

terça-feira, 22 de maio de 2012

A HISTORIA DE ANGELINA:


Angelina  sempre  foi uma mulher de vida intensa. Aos 25 anos ja tinha se casado, tido um filho, passado por um divorcio e superado um cancer.

Angelina provem de familia de classe media alta paulistana, teve uma infancia confortavel, e cursou medicina veterinaria em uma renomada faculdade particular no interior paulista.

Talves a mistura de sua personalidade aventureira, somada a suas diferentes experiencias de vida, fizeram de Angelina uma pessoa especial. 

Aos 27 anos conheceu seu atual marido, um espanhol com o sonho de correr o mundo. Pablo nesta época  estava indo para a Alemanha   trabalhar em uma fabrica de doces finos com lojas por toda a Alemanha.  Depois de  alguns meses de namoro, Angelina fechou sua clinica veterinaria, deixou seu filho aos cuidados de seus pais, casou se com Pablo e foi residir com ele na Alemanha.

Durante quatro anos eles moraram  em sete diferentes cidades da Alemanha e duas da Suíça, sempre servindo doces daquela empresa.

 Durante todos estes anos, eles sempre residiram apenas num quarto, em casas compartilhadas com outros funcionários da empresa.

Há cinco meses mudou-se para Londres, somente com dinheiro para pouco  tempo. Mas logo Pablo já encontrou trabalho como motorista em uma empresa de entrega de pizzas.

Não sei bem o motivo que os levou a deixar a loja de doces, mas sei que também residiram por um ano na Espanha com a família de Pablo, e na Itália, onde trabalharam em um Pub.

O desprendimento de Angelina, sua facilidade de adaptação e sua coragem  me impressionam. As experiências boas e ruins  que ela teve durante todos estes anos  residindo e trabalhando de forma tão diferente da qual sempre viveu no Brasil, são descritas por ela de maneira simples e humana.

Agora eles tem novos planos, uma amiga sua de faculdade convidou-a para trabalhar no Brasil como veterinária durante seis meses, com excelente salário, e ela já esta com passagem comprada  para junho próximo.

Desta vez Pablo ficara no Reino Unido trabalhando, pois o objetivo de ambos e juntar dinheiro para que ela curse um mestrado de veterinária em Portugal, que permitira que ela  exerça  a sua profissão por toda a Europa.

Torço para que Angelina tenha muito sucesso em tudo que fizer, pois ela significa um exemplo de como a vida pode ser mais simples e emocionante, se tivermos mais coragem.

Ligia  Kaysel


sábado, 28 de abril de 2012

Crimes contra a honra:


Sabe-se  que os crimes  cometidos  para preservar a honra  das  famílias  ocorriam  no século passado, ou ainda ocorrem em regiões remotas do planeta. Eu não imaginava porém,  a grande incidência deste delito no Reino Unido, em pleno seculo XXI.

Uma pesquisa  elaborada pela BBC TV1 de Londres para  o documentário “Panorama” exibido em 19/03/12 constatou que dois terços dos britânicos de origem asiática ou asiáticos que vivem no Reino Unido concordam que suas famílias vivam de acordo com o conceito de honra.

Uma pesquisa da ONG–IKWRO-Organização dos Direitos da Mulher do Irã e do Kurdiquistão constatou que mais de 2.800 delitos (violência física, mutilações e homicídios) pelo motivo da  honra foram registrados pela polícia do Reino Unido no último ano (2011), isso sem contar  os casos  não registrados, que provavelmente são muitos.

“O número de incidentes é significativo, especialmente quando nós considerarmos o alto nível de violência que as vítimas sofreram antes de procurar ajuda “,diz Mr. Nazir Afzal, representante do Ministério Publico de Londres.

Os crimes por razões de honra costumam ser organizados pelas famílias, sendo as vítimas, na maioria das vezes, a mulher. Os motivos mais frequentes  são:-A recusa de um casamento forçado  -A procura pelo divórcio  -Um relacionamento amoroso não aprovado pela familia  -Ataque sexual sofrido pela mulher (dupla violência)  –Ser homossexual; e outros.

Um exemplo desta problemática, exibido no documentário  Panorama, foi o de uma jovem proveniente do Paquistão, prometida como noiva para um britânico de origem asiática em Londres. Ao chegar para o casamento teve seu passaporte confiscado por seu noivo e sua família; depois do casamento foi trancada em casa e passou a sofrer de violência doméstica física. Ao informar ao seu genitor no Paquistão da violência  que ela estava sofrendo, seu pai pediu para que a mesma  não deixasse seu marido em nome da honra da família.  A jovem suicidou-se.

Entre as tentativas governamentais e não governamentais de combate a este fenômeno, foram criados os abrigos  para mulheres  que sofrem de violência doméstica pela honra e seus filhos, com apoio socio-psico-jurídico, tudo com o objetivo das mesmas superarem a violência sofrida e começarem uma nova vida no Reino Unido. Há porém a dificuldade de se chegar até estas mulheres, visto que sofrem caladas, afastadas do mundo, trancadas em seu inferno particular, além da barreira da língua,  visto que muitas delas são proibidas de apreender o inglês.

Há 4 anos existe no país uma linha direta (telefone para aconselhamento e ajuda) especialmente para vítimas de violência doméstica causada pela honra. A média de chamadas  tem sido de 500 ao mês. As chamadas sao anônimas, e podem ser atendidas em diversas  línguas  e dialetos árabes e norte africanos.

Talvés seja este um  caminho eficiente para o início de um combate mais efetivo para tão grave  questão.

LIGIA KAYSEL

domingo, 22 de abril de 2012

O BAIRRO QUE EU TRABALHAVA:




Trabalho em  uma empresa que fornece micocrédito  para pessoas de baixa renda. São 15 lojas em  empobrecidos  bairros  de  Londres.

Por quase dois anos trabalhei em um bairro onde há a  predominância de  imigrantes Somalis  e seus descendentes, de  maioria muçulmana.

É um bairro muito interessante. Existe, por exemplo, um mercado com   diversas bancas que vendem  uma   enorme  variedade  de “hijab” (véu que cobre os cabelos, orelha e pescoco, deixando visível apenas o rosto), bordados, rendados, de diversos tecidos e cores que, expostos nas  manequins, são realmente  muito delicados e bonitos. Lembro me de um colega muçulmano,  que trabalhou comigo naquela loja,  que relatou  me um dia  o “quão”  lindo e sedutor   era,  do seu ponto de vista, as jovens que trajavam  véus.

A  quantidade e diversidade de meias finas, até a altura das coxas para mulheres, dos mais diversos modelos, cores e rendas, chamavam-me  também a atenção pois, provavelmente deve ser um importante ítem de sedução feminina  dentro de casa (visto que fora de casa elas estão sempre com  roupas compridas).

Há também, na rua da minha antiga  loja,  uma doceria  com   deliciosos  produtos típicos  do oriente,  onde  é o  “ponto de encontro”  dos jovens muçulmanas daquela comunidade.  As  jovens, cobertas por longos vestidos  com mangas compridas  e com o “hijad” sobre a cabeça, mas   bem maquiadas e com as unhas cuidadosamente pintadas, nunca sentam se junto aos rapazes, mas depois de algum tempo no lugar,  percebe-se  a troca de olhares e sorrisos, uma discreta  “paquera” entre eles.

Há   ainda um estabelecimento, vizinho a  minha  ex-loja, de  vestidos finos para mulheres muçulcanas, cuja gerente (ou proprietaria, não sei) é mal humorada e tem olhos verdes. Digo mal humorada   pois   houve uma   época  que tentamos, meus colegas de trabalho e eu, nos aproximarmos da mesma sem sucesso . Cito seus olhos verdes  por   ser a  a  única parte de seu corpo  que    era  possível  se  visualizar ,  visto que ela usava   o “ Niqab” (véu integral com um acessório individual que cobre o rosto da mulher,  deixando  sòmente os olhos expostos). Pelos seus olhos podíamos ver que  ela posssuia pele clara,  era bem jovem e deveria ser bonita.

Há um mês fui transferida para uma outra loja da minha empresa, mais perto de minha casa. Neste bairro já não vejo muitos muçulmanos,   porém é um bairro onde há predominância  de   nigerianos  e  jamaicanos.

E assim vai se formando Londres, como uma colcha de retalhos, onde cada país ou grupo de países   é representado num bairro ou região, tornando cada lugar um lugar peculiar e único.

LIGIA KAYSEL

sábado, 14 de abril de 2012

A POBRE NAÇÃO RICA: A recessao no Reino Unido



Habituar-se a viver com mais dinheiro éfácil, mas habituar-se  a viver  com menos é muito difícil para qualquerpessoa.

Imaginem então para  toda uma nação  que experientou pordiversas  gerações fartura de emprego, de  benefícios sociais e serviços públicos dequalidade, ter que se adaptar a uma recessão que não  dá  sinaisde melhora.

Esta é a realidade do Reino Unido hoje, e provavelmente de boa parte da Europaocidental.

Desde 2010 o governo britânico está  sendo obrigado a fazer cortes no  seu orçamento, incluindo serviços públicos.O  setor privado por sua vez ,  vemtambém  cortando drásticamente  suas despesas.

Para a maioria da população cabe a  difícil   tarefa demudar   de atitude, de planos, e algumas vezes até a maneira deencarar o mundo.

Em 2011 mais de 100 mil empregospúblicos   no setor da saúde e  da educação foram cortados  (The Guardian-22/03/2012).

Sòmente no sistema de saúde públicabritânico (NHS) foram cortados 30 mil postos de trabalho. Para tanto, sem que os primeiros  atendimentos passem  a ser diferentes doque no passado, decidiram  interferir  diretamente na atuação do médico generalistado posto de saúde.

Portanto a pessoa que necessita  de atendimento médico  será  prontamente atendida no posto de saúde maispróximo de sua casa porém,  mesmo que omédico  desconfie  que  pode haver a possibilidade de algumproblema mais grave com o paciente, ele   está limitado em   seus   primeiros   atendimentos,  emrelação   a   requisição  de exames   e/ou  encaminhamentos  para especialistas.   Sòmente depois  de  algumas  consultas  ou dos sintomas do pacientese agravarem,  o médico poderá encaminha-lo a um exame mais preciso ou para algum especialista.

Os mais de 71 mil   empregoscortados em 2011 na educação pública, trouxeram como consequência  a piorada  qualidade do ensino, especialmente nas comunidades  de baixarenda de Londres, além de drásticos cortes em outros programas educacionais.

O  programa ESOL, que visa o ensino de inglês para imigrantes  adultos, cortou seu atendimento de 195 mil para 100 milalunos nos dois últimos anos. São hoje sòmente elegíveis para frequenter esteprograma, quem está  recebendo o “segurodesemprego” (portanto já trabalhou  legalizado anteriormente  no Reino Unido)ou  para  quem recebe alguns poucose   determinados beneficios sociais.(www.thethelegraph.co.uk-03.11.11).

Grande parte da população  que frequentava o ESOL anteriormente era compostapor mulheres imigrantes com filhos, que vivem no mais completo  isolamento  doméstico de seus lares, ou imigrantes que trabalham em empregos  mal pagos(recebendo muitas vezes menos que o salário mínimo estipulado no país), todospor desconhecer  completamente a linguafalada no país em que vivem.

Também diversos  beneficios sociais da Inglaterra, como a ajudapara as mães que desejam  permanecer emcasa cuidando dos seus filhos , ajuda no aluguel para população de baixa rendae outros,estão ameaçados de serem diminuídos   ou cortados,  a partir de 2013.

Enfim,  o Reino Unido hoje, é umasociedade em transformação, talvez nunca mais volte a ser a  mesma depoisdesta crise.     

Ligia Kaysel.