sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

"Nannys"ou "Babás"(Exploracao do trabalho domestico)(sem acentuação)


Luciana trabalha como “nanny” (babá) aqui em Londres. Ela cuida de 2 criancas  e adora  seu  trabalho. Ela tem 24 anos e este trabalho, alem de ser facil pra ela pois  sempre gostou de criancas, lhe proporciona diversas viagens, visto que o casal com os filhos costumam  viajar por toda a europa e sempre a levam junto para  cuidar das criancas. Luciana e formada em Administracao de Empresas no Brasil, veio para Londres ja falando perfeitamnete bem o ingles, e por possuir cidadania  europeia,  nao possui  problema de vistos de entrada  nos diversos paises  onde esta conhecendo com a sua familia empregadora. Ela reside na casa da familia, vai para sua casa somente nos finais de semana, e como seu salario e bom, e ela quase nao tem gastos, esta comprando um bom apartamento  em construcao  em sua cidade natal. A familia de Luciana  no Brasil (proveniente da regiao sudeste) esta radiante, devido a boa sorte da filha.

 No Brasil, especialmente no interior do norte e nordeste do pais (regiao pauperrima), muitas jovens tambem empregam-se de babás na regiao sudeste (eixo Rio/Sao Paulo),com familias de classe media e classe media alta (como a de Luciana). As  familias  dessas garotas sentem se felizes e recompensadas quando suas filhas lhe relatam quao belas e confortaveis  sao as casas  que estao residindo, que  alimentacao boa estao tendo, que lugares bonitos estao conhecendo. Seus salarios tambem geralmente  sao muito bons  em relacao ao nivel de salarios de cidades do interior do nordeste brasileiro, e e sabido que muitas destas meninas mandam quase todo o salario para ajudar no sustento de suas familias  por la.

 Entao   comeco a lembrar-me de  situacoes familiares do meu cotidiano de infancia,  quando uma tia minha gostava de  mandar trazer meninas do interior da Bahia pra trabalhar e morar em sua casa como babás e empregadas, “porque elas eram trabalhadoras, nao ficavam reivindicando direitos, e estavam  sempre  dispostas a trabalhar  a qualquer hora, sem se importarem com noites, fins de semana ou feriados”.(sic). Lembro me tambem do quanto ela sentia se  generosa  por “permitir” que  a noite estas meninas pudessem assistir televisao com  ela  e sua familia (mas no intervalo  dos programas televisivos, se alguem da casa desejasse um copo de agua, eram essas meninas que iriam buscar na cozinha).

Lembro me  ainda da  real  indignacao  de minha tia quando, depois de algum tempo (as vezes anos) a sua “servazinha” desejava ir embora, trabalhar em outro lugar, sem residir na casa dos patroes e com  mais privacidade. Minha tia as considerava umas “ingratas”, e estas meninas,  apesar de desejarem muito ir embora,  sentiam-se cheias de culpa, pois havia sido  minha tia que as  tinha trazido para este  mundo novo, o mundo da cidade grande, que elas gostavam de viver, mas nao naquela situacao, nao naquele trabalho que as escravizava.

Logicamente ha diferencas gritantes entre estas meninas  brasileiras do norte e nordeste do Brasil e garotas como Luciana aqui em Londres.As brasileirinhas vao para estes trabalhos muito novas (algumas com 11 ou 12 anos de idade), epoca da vida em  que deveriam estar estudando, sem prepararem se para uma profissao. Devido a precariedade de sua infancia, e a ignorancia de seus genitores, elas desconhecem serem possuidoras de qualquer direito como cidadãs, o que faz com que situacoes como  as da casa de minha finada tia, acontecam com frequencia .As Nannys de Londres residem em seus trabalhos por  escolha propria e submetem se  a este trabalho temporariamente,  em  um investimento futuro, visto serem instruidas e adultas.

Mas   devem  as “nannys” brasileiras em Londres ficarem  atentas para nao serem  exploradas no trabalho, por mais lucrativo que  este trabalho seja, pois ja ouvi de senhoras inglesas   sobre os “problemas  que as nannys imigrantes podem trazer a seus filhos”, e senti que elas citavam estas profissionais  com  certo  preconceito.

Quanto as garotas do Brasil, ha diversas organizacoes  nao governamentais preocupadas com a referida exploracao do trabalho domestico infanto/juvenil, diversos programas ja foram lancados neste sentido, mas estes programas sao muito dificies de alcancarem seu  publico alvo, pois  estas meninas  nao frequentam escolas, estao sempre dentro das casas, e o pior, nao se acham  violadas em seus direitos, nem elas, nem tampouco suas familias.

Mas o mais interessante de tudo isso e  que a mesma familia de classe media alta  da regiao sudeste, que explora a mao de obra  domestica de  uma menina do nordeste  brasileiro, pode ter sua filha sendo explorada  no trabalho por uma familia  europeia, sem achar nenhuma  similariedade entre as duas situacoes.


Ligia Kaysel

2 comentários:

Anônimo disse...

Sensacional! Muito bom MESMO!

Flávia Cabral disse...

Querida Ligia,
...saudades!!!! Adorei seu artigo e principalmente seu comentário final...mto reflexivo. Bjos com carinho: Flávia Cabral