Luciana trabalha como “nanny” (babá) aqui em Londres. Ela cuida de 2 criancas e adora seu trabalho. Ela tem 24 anos e este trabalho, alem de ser facil pra ela pois sempre gostou de criancas, lhe proporciona diversas viagens, visto que o casal com os filhos costumam viajar por toda a europa e sempre a levam junto para cuidar das criancas. Luciana e formada em Administracao de Empresas no Brasil, veio para Londres ja falando perfeitamnete bem o ingles, e por possuir cidadania europeia, nao possui problema de vistos de entrada nos diversos paises onde esta conhecendo com a sua familia empregadora. Ela reside na casa da familia, vai para sua casa somente nos finais de semana, e como seu salario e bom, e ela quase nao tem gastos, esta comprando um bom apartamento em construcao em sua cidade natal. A familia de Luciana no Brasil (proveniente da regiao sudeste) esta radiante, devido a boa sorte da filha.
No Brasil, especialmente no interior do norte e nordeste do pais (regiao pauperrima), muitas jovens tambem empregam-se de babás na regiao sudeste (eixo Rio/Sao Paulo),com familias de classe media e classe media alta (como a de Luciana). As familias dessas garotas sentem se felizes e recompensadas quando suas filhas lhe relatam quao belas e confortaveis sao as casas que estao residindo, que alimentacao boa estao tendo, que lugares bonitos estao conhecendo. Seus salarios tambem geralmente sao muito bons em relacao ao nivel de salarios de cidades do interior do nordeste brasileiro, e e sabido que muitas destas meninas mandam quase todo o salario para ajudar no sustento de suas familias por la.
Entao comeco a lembrar-me de situacoes familiares do meu cotidiano de infancia, quando uma tia minha gostava de mandar trazer meninas do interior da Bahia pra trabalhar e morar em sua casa como babás e empregadas, “porque elas eram trabalhadoras, nao ficavam reivindicando direitos, e estavam sempre dispostas a trabalhar a qualquer hora, sem se importarem com noites, fins de semana ou feriados”.(sic). Lembro me tambem do quanto ela sentia se generosa por “permitir” que a noite estas meninas pudessem assistir televisao com ela e sua familia (mas no intervalo dos programas televisivos, se alguem da casa desejasse um copo de agua, eram essas meninas que iriam buscar na cozinha).
Lembro me ainda da real indignacao de minha tia quando, depois de algum tempo (as vezes anos) a sua “servazinha” desejava ir embora, trabalhar em outro lugar, sem residir na casa dos patroes e com mais privacidade. Minha tia as considerava umas “ingratas”, e estas meninas, apesar de desejarem muito ir embora, sentiam-se cheias de culpa, pois havia sido minha tia que as tinha trazido para este mundo novo, o mundo da cidade grande, que elas gostavam de viver, mas nao naquela situacao, nao naquele trabalho que as escravizava.
Logicamente ha diferencas gritantes entre estas meninas brasileiras do norte e nordeste do Brasil e garotas como Luciana aqui em Londres.As brasileirinhas vao para estes trabalhos muito novas (algumas com 11 ou 12 anos de idade), epoca da vida em que deveriam estar estudando, sem prepararem se para uma profissao. Devido a precariedade de sua infancia, e a ignorancia de seus genitores, elas desconhecem serem possuidoras de qualquer direito como cidadãs, o que faz com que situacoes como as da casa de minha finada tia, acontecam com frequencia .As Nannys de Londres residem em seus trabalhos por escolha propria e submetem se a este trabalho temporariamente, em um investimento futuro, visto serem instruidas e adultas.
Mas devem as “nannys” brasileiras em Londres ficarem atentas para nao serem exploradas no trabalho, por mais lucrativo que este trabalho seja, pois ja ouvi de senhoras inglesas sobre os “problemas que as nannys imigrantes podem trazer a seus filhos”, e senti que elas citavam estas profissionais com certo preconceito.
Quanto as garotas do Brasil, ha diversas organizacoes nao governamentais preocupadas com a referida exploracao do trabalho domestico infanto/juvenil, diversos programas ja foram lancados neste sentido, mas estes programas sao muito dificies de alcancarem seu publico alvo, pois estas meninas nao frequentam escolas, estao sempre dentro das casas, e o pior, nao se acham violadas em seus direitos, nem elas, nem tampouco suas familias.
Mas o mais interessante de tudo isso e que a mesma familia de classe media alta da regiao sudeste, que explora a mao de obra domestica de uma menina do nordeste brasileiro, pode ter sua filha sendo explorada no trabalho por uma familia europeia, sem achar nenhuma similariedade entre as duas situacoes.
Ligia Kaysel
2 comentários:
Sensacional! Muito bom MESMO!
Querida Ligia,
...saudades!!!! Adorei seu artigo e principalmente seu comentário final...mto reflexivo. Bjos com carinho: Flávia Cabral
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